Historiador
Veio para ressuscitar o tempo
e escalpelar os mortos,
as condecorações, as liturgias, as espadas,
o espectro das fazendas submergidas,
o muro de pedra entre membros da família,
o ardido queixume das solteironas,
os negócios de trapaça, as ilusões jamais confirmadas
nem desfeitas.
Veio para contar
o que não faz jus a ser glorificado
e se deposita, grânulo,
no poço vazio da memória.
É importuno,
sabe-se importuno e insiste,
rancoroso, fiel.
Carlos Drummond de Andrade
ANDRADE, C.D. Disponível em : <http://www.citador.pt/poemas/historiador-carlos-drummond-de-andrade> Acesso em: 22 de julho de 2014.